Na psicanálise relacional, a ênfase é sobre o processo, implicando duas pessoas e a importância da noção de mudança: o que faz com que alguém possa mudar, fazendo análise?

Cada vez mais, os profissionais se deparam com dificuldades nas situações clínicas que não podem mais ser resolvidas com as abordagens, conceitos e teorizações tradicionais. Um desejo “de outra coisa” está surgindo nos jovens cuja formação tradicional não consegue mais dar os requisitos necessários aos encontros clínicos.

Além dos fenômenos de modismo ou de “roupagem nova” de ideias antigas, a psicanálise relacional oferece um campo aberto de elaboração da clínica cotidiana a partir das vivências de cada profissional no seu consultório, ou instituição onde trabalha. A(s) mudança(s) são pensadas como acontecendo em ambos os lados, da analisanda/analista. As vivências da analista são partes integrantes do processo e não automaticamente consideradas como elementos patológicos a ser analisados na análise pessoal ou na supervisão. Neste contexto a auto-revelação e as encenações podem favorecer o processo, dependendo dos contextos e das trajetórias consideradas.

A dimensão “relacional” vai além das noções de intersubjetividade, de interpessoal, de alienação, de relação de objeto, de rêverie, de identificação projetiva ou de espaço transicional sem por isso negar ou recusar os avanços que esses conceitos propiciaram. A matriz relacional consiste em posições diferenciadas de cada profissional sobre as questões do intrapsíquico, do outro e daquilo que existe e/ou acontece no processo.

Deste ponto de vista, a psicanálise relacional não é uma escola, com uma teoria unitária do psiquismo, do inconsciente, da técnica ou da formação dos analistas. Ela existe como um movimento estruturado em rede, com a International Association for Relational Psychoanalysis and Psychotherapy, associação internacional como lugar de troca e de trabalho das várias vertentes da psicanálise atual.

Além do foco sobre o encontro de duas pessoas no dispositivo analítico, os autores que vinculam seu trabalho à psicanálise relacional costumem ter algumas áreas de elaboração em comum, moduladas de maneiras diferentes em função do pensamento de cada um:

1. Os estudos iniciados nos anos setenta sobre as relações entre os infantes e seus cuidadores, transformando a paisagem das questões sobre o desenvolvimento humano e as suas implicações sobre a teoria e a técnica da psicanálise.

2. As descobertas das neurociências que, cada vez mais, oferecem um campo de troca e de elaboração sobre as hipóteses da psicanálise.

3. Os estudos de gênero que trazem pensamentos novos e atitudes críticas no que diz respeito as mudanças ocorrendo nas maneiras de se relacionar dos humanos do século XXI. Essas três áreas de atuação se completam de maneira diversa com reelaborações da teoria psicanalítica, utilizando novas metáforas para dar conta e pensar a clínica. Mais uma vez, esses elementos podem variar em função das escolhas dos autores e das referências privilegiadas por cada um: noções de redes, de geometria fractal, auto- similaridade, auto-organização, sistemas dinâmicos não lineares, atratores e padrões de organização, estruturas dissipativas, etc.

Essa abordagem se apresenta como work in progress e várias questões estão elaboradas nas publicações atuais: Como escrever a clínica de uma nova maneira? Como elaborar e trabalhar as questões da encenação e da auto-revelação?