Soube que estudantes universitários nos Estados Unidos, com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), recebem apoio e reforço de pessoal especializado, uma vez por semana. Reconhecendo a necessidade de um terceiro que incentive e acompanhe os alunos nas atividades acadêmicas. Essa pesquisa surge recentemente a partir do número de alunos com diagnóstico de TDAH. Diz uma estudante: “Não nasci para me virar sozinha. Não é saudável, vou só bater com minha cabeça na parede. Eu não estou errada em não querer me virar sozinha. Estou sem meus remédios. Com os professores auxiliares tenho reforço, eles me explicam, me entendem. Meu déficit não é porque quero”. Longe de mim procurar causas, nesse sentido, tento entender o universo de portadores do tal transtorno.

A falta de concentração, de foco, pode estar alinhada aos problemas dos pais, estes podem provocar a desatenção no filho. Na clínica com portadores de TDAH, é bem comum ouvir: Passo o dia pra lá e pra cá, 80% do dia é perdido, a noite me resta 20%, já estou exausto. Ao dizê-lo, transmite o que estar dentro de si e o deixa paralisado, ansioso, com medo, inseguro. Como se estivesse caminhando por lugares de situação já vivida. A atividade é vivida como se fosse uma situação angustiante, apreensiva, e, portanto, carregam especificidades que devem ser levadas em consideração.

Outra pista para entender o crescimento cada vez maior do TDAH é a diminuição das brincadeiras das crianças, brincadeiras incluindo o corpo. Os jogos de telas (e a pandemia) dificultaram as brincadeiras de crianças, correndo, pulando, lutando, se escondendo, rolando na areia, etc. Também o controle dos pais e uma certa moral em plena divulgação não incentivam este tipo de atividade, tão importante para o desenvolvimento motor, físico, afetivo e emocional das crianças. Alguns estudos apontam essas mudanças como sendo ligadas ao aumento dos transtornos de atenção em crianças, e, consequentemente, o aumento da medicalização. Mas, a ritalina não pode ocupar o lugar do brincar!

E nessa esteira, o “branco” que se escuta dizer na hora da prova, é possível ligar a um acumulo de situações lá de trás. Sobre a possibilidade de acender um outro assunto difícil de falar a alguém que pudesse escutar. Talvez, a dificuldade de realizar tal atividade, tenha a ver com a história do sujeito, que não foi capaz de se apropriar do assunto porque ficou nervoso. Aqui vem a importância do analista ser empático, sensível as memórias e lembranças implícitas mais queridas e tristes de seus pacientes. E afinal, é no encontro com o analista que será possível encenar essas situações vividas de maneira implícita.

Metaforicamente falando, aqui se estar entrando em espaços, como se estivesse passeando na areia do mar, e ai vem as ondas fortes. A questão é: para fazer o caminho, para andar, precisa da companhia do outro, o sujeito não consegue fazer sozinho, pois, não deixaria entrar na calmaria, e ai a onda alta lhe derruba. A dificuldade que impede de caminhar na praia, é justamente o que parece o fator principal a dificultar o caminhar, uma vez que se depara com a raiva dos pais por sentirem prescindidos por esses. É nesse espaço que se forma os intensos sofrimentos, tanto do corpo quanto da alma, da mente. Os problemas dos pais repercutem, inevitavelmente, nos filhos. E nesse contexto, o filho não tem tranquilidade, paz para continuar na vida, no mundo onde seus pais também não tiveram uma relação afetuosa para prosseguir no mundo de maneira cordial.

Mas afinal, é preciso preencher os espaços…

Autora: Ilma Tavares Araújo Montenegro

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